segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Novas pesquisas com DNA revelam duas espécies de animais onde antes só havia uma:

Há 100 mil anos, o planeta tinha um dono, o elefante. Dezenas de espécies de paquidermes habitavam os cinco continentes. Europa e Sibéria eram o território do mamute-lanoso. A América do Norte pertencia ao mamute-americano e ao mastodonte. A América do Sul, aos mastodontes e a seus primos, os gonfotérios. Havia uma espécie de elefante-anão em cada ilha do Mediterrâneo, de Chipre e Creta à Sardenha e à Sicília. Em Timor e na Ilha das Flores, na Indonésia, viviam primos distantes dos elefantes, os estegodontes. O mundo pertencia aos paquidermes. Sua supremacia começou a acabar há 100 mil anos, quando o primeiro Homo sapiens pôs os pés fora da África.
Caçadores implacáveis, nossos ancestrais trataram de dizimar e devorar os paquidermes que achavam no caminho. Os mamutes se foram há 20 mil anos. Há 10 mil anos foi a vez dos mastodontes e gonfotérios sul-americanos e dos estegodontes indonésios. O último elefante-anão foi comido em Rodes há 4 mil anos. Na época, as manadas remanescentes na China desapareceram. Restaram duas espécies apenas: o elefante-asiático (Elephas maximus) e o elefante-africano-da-savana (Loxodonta africana). Ou assim se pensava. A comparação do DNA de duas espécies extintas, o mamute-lanoso e o mastodonte-americano, ao DNA dos elefantes atuais revelou a existência de uma terceira espécie viva: o elefante-africano-da-floresta (Loxodonta cyclotis).

Desde que foram descobertos há meio século, os elefantes da floresta tropical da bacia do Congo eram considerados uma subespécie do elefante-africano. Menores, os elefantes-da-floresta têm orelhas arredondadas, cinco unhas na pata dianteira e quatro na traseira (o elefante-africano tem quatro e três, respectivamente). Apesar das diferenças, o paquiderme da floresta consegue cruzar com o da savana, daí a persistente dúvida dos zoólogos sobre sua verdadeira identidade. A descoberta da nova espécie, anunciada em dezembro na revista PLoS Biology, é uma consequência direta do refinamento da genômica, a união da genética à computação.

Muita coisa mudou desde o anúncio do genoma humano, em 2003. Centenas de geneticistas levaram dez anos para mapear os 3 bilhões de letras do nosso DNA, ao custo de US$ 5 bilhões. Hoje, a tarefa seria feita por alguns geneticistas em 12 meses, por US$ 50 mil – ou uma centena de milésimo. Essa fenomenal economia de escala está transformando a biologia, fazendo-a retornar às origens, como ciência que nasceu, no século XVIII, para classificar os seres vivos segundo suas semelhanças e diferenças anatômicas. Usando a genômica como ferramenta, os biólogos do século XXI encaram o desafio de mapear a diversidade da vida.

Não passa uma semana sem o anúncio de um novo genoma. Depois dos elefantes, foram anunciados na semana passada os genomas de duas espécies de orangotango: de bornéu e de sumatra. Os orangotangos são nossos primos em terceiro grau, parentes mais afastados que gorilas e chimpanzés. Os dois genomas foram mapeados a partir de células de cinco orangotangos-de-bornéu e seis de sumatra. O estudo, publicado na revista científica britânica Nature, mostra que as espécies se divergiram há 400 mil anos. O que chama a atenção dos geneticistas é a tremenda diversidade genética existente entre os orangotangos. “Detectamos uma diversidade profunda tanto entre os orangotangos-de-bornéu quanto nos de sumatra”, diz Devin Locke, o líder do estudo, da Universidade Washington, em Saint Louis. A diversidade é importante, pois eleva a chance de populações se manterem saudáveis e se adaptarem a mudanças ambientais. “O orangotango é muito mais diverso, geneticamente falando, que o ser humano.” O estudo mostrou que o ancestral comum de humanos e orangotangos viveu há 12 milhões de anos, o dobro do tempo do ancestral que dividimos com o chimpanzé. Descobriu-se também que compartilhamos com os orangotangos 97% do DNA, em relação aos 98,5% com os chimpanzés.

A comprovação genética das novas espécies de elefante e orangotango tem outro precedente. Seu protagonista é a pantera-nebulosa, o mais esquivo dos felinos, um gato de 60 quilos que vive na Malásia e na Indonésia. Em 2007, a pesquisa de suas células revelou a existência não de uma, mas de duas espécies: a da Malásia e a que vive nas ilhas de Bornéu e Sumatra.

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