sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A quem incomoda o aborto e perspectivas quanto ao controle do corpo feminino:






Me propus elaborar uma análise critica com base na matéria “Vamos continuar a recolher corpos de mulheres mutilados e carbonizados?” da colunista Cláudia Collucci veiculada no site da Folha em 24 de agosto de 2016. Para tal, se faz necessário à aplicação de um olhar holístico da problemática das instâncias inerentes a saúde da mulher, tensões politicas, atravessamentos ideológicos, além da dinâmica sócio cultural que permeia a temática do aborto para além de um tópico tabu, mas sim um problema que carrega em si pressupostos que concernem ao poder patriarcal do sistema social vigente.




A matéria “Vamos continuar a recolher corpos de mulheres mutilados e carbonizados?” aborda a problemática do aborto e os inúmeros casos de mortes de mulheres que recorrem às clinicas clandestinas e os aspectos que atravessam a dinâmica desse cenário social. Assim a colunista debate a questão exemplificando os casos de algumas das inúmeras vitimas desse sistema que emperra qualquer efetividade de ações no que concerne as politicas de saúde publica.


Contudo não se pode debater a questão da saúde e cuidados da mulher e principalmente o aborto sem se posicionar perante o sistema machista e patriarcal que gere as decisões primordiais que poderiam evitar tal cenário. Ou seja, partindo da estimativa da OMS que levanta que a cada dois dias uma mulher brasileira morra devido a complicações de abortos clandestinos, não se pode negar a influencia de uma cultura arcaica que põem a vida de mulheres em risco por se ater ideologicamente a princípios machistas que pregam o corpo da mulher como propriedade do poder patriarcal.


Há nisso ainda uma perspectiva da sistemática econômica, pois abortos acontecem e sempre aconteceram e legal ou não a questão é que a alta mortalidade atinge mulheres das camadas mais baixas da sociedade, ou seja, sob o prisma do poder econômico o aborto e sua problemática ganha cor, etnia e classe social, isso no que tange a sua criminalização e mortalidade.


Por isso, não se pode deixar de citar o aspecto mais hipócrita de tal dinâmica, considerando o Brasil um país de maioria cristã, observa-se a influência nefasta de pontuações ideológicas que só podem ser comparadas a uma Idade Média politica que deixa de lado a máxima de Estado laico para empregar um sem fim de retaliações para com o que tange a ações para o bem estar da mulher. Questão essa torna se ainda mais preocupante atualmente ao se considerar a configuração do governo vigente que coloca um ministro da saúde (Ricardo Barros) que tem em sua pauta que igrejas participem do debate do aborto.


Observa-se um evidente desdém daqueles que detém o poder para com a temática e mesmo ineficiência para sua função ao nem ao menos observar o aborto como um problema de saúde publica.


Assim o que se observa é a clandestinidade não só das clinicas de aborto, mas da tragédia em si que se expressa na vida de mulheres que ainda no século XXI precisam lutar pela posse de seus próprios corpos. Uma clandestinidade que tange a fatores históricos, sociais, econômicos e que ainda não consegue nem ao menos se livrar uma óptica inquisidora seja da politica, seja do próprio preconceito social alardeado midiaticamente.


Talvez seja simplório dizer, mas torna se inegável a afirmação de que se homens engravidassem o aborto já seria legal há muito tempo. Questão que remete a fato do aborto masculino que além de expressar o abandono de milhares de crianças criadas apenas pela mãe, também levanta a questão de como o meio social julga a mulher e exime os homens da responsabilidade, como se até justificasse tal ato como natural da masculinidade.


É inegável a problemática cultural que barra e faz frente a trazer o aborto para a luz da problemática da saúde pública a própria sociedade se nutre de uma cultura que se diz pró-vida, mas se estabelece como pró-nascimento, como se dissesse que a vida do feto é importante, mas a da mãe pode ser posta em risco.


Em suma a saúde pública e as politicas públicas que atualmente no Brasil enfrentam um dos maiores perigos de retrocesso e não somente devido às inúmeras jogadas politicas que somente atendem a agendas individuais e partidárias, quando não de interesses de empresários e gente do alto escalão determinada a manipular toda forma de poder em beneficio ao lucro, mas também devido a cultura social que nas ultimas décadas se desenvolveu em favor das minorias, estabelecendo programas de desenvolvimento que mudou muito a face do país. Ao mesmo tempo observa-se que se estabeleceu uma resistência neoliberal que se sente ameaçada por uma constituição social mais igualitária que lhe retira o poder de subjugar as faixas sociais desfavorecidas.


Por sinal é mais do que evidente de que temas como aborto, cotas, direitos LGBTs ou mesmo programas como bolsa família ou auxilio reclusão incomodam exatamente aqueles que historicamente sempre estiveram em vantagem econômica, assim não é surpresa que quando se fala em saúde da mulher e legalização do aborto, os que mais se ressentem são homens, heterossexuais, cis, brancos, cristãos, oriundos das classes sociais mais altas.



Tal analise possibilita entender a questão do aborto como um enfrentamento que remete a problemática do controle, neste caso o controle do corpo feminino, talvez até mesmo em analogia a conceituação de Foucault, como um controle do corpo físico e do corpo social da mulher perante o Estado, o patriarcado, a sociedade, cultura e infelizmente a religião que condena e julga tem levado mulheres a morte pelo simples fato de não observar uma questão de saúde pública como ela realmente é. Assim, torna-se lamentável que em tempos de Zica vírus a saúde e bem estar da mulher ainda seja encarado por uma ótica tão reacionária. 

Referência:


COLLUCCI, C. Vamos continuar a recolher corpos de mulheres mutilados e carbonizados? Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudiacollucci/2016/08/1806424-vamos-continuar-a-recolher-corpos-de-mulheres-mutilados-e-carbonizados.shtml Acesso em: 12 set. 2016.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Exorcizando o excesso de passado:

No agora tudo parece convergir, todas conversas, todos os acasos, as pequenas coincidências, todos os olhares distantes... No agora há aquela certeza dolorosa, mais dolorosa do que as madrugadas de duvida em que compartilhamos o seu desespero.
Porem ainda há uma parte que trocaria as madrugadas do agora por aquelas em o telefone era a única conexão para não te fazer desistir de si mesmo. Não acredito que em momento algum tenha te salvado, vejo de algum modo agora, que você nunca quis o fim, apenas tinha um medo muito grande do amanhecer... E no agora eu entendo, sem duvida alguma o amanhecer é a pior parte.
Nas madrugadas do agora há a dor, mas minha mente ousou perscrutar cada momento do passado, cada segundo, cada convergência. Tudo começou tão rápido, tão intenso, como se a vida toda fosse uma preparação para aquele encontro, como se o feitos um para o outro fosse real... Mas a verdade é que não se pode esperar muito de um sentimento que literalmente começou nas nuvens.
Uma vez ouvi que depressão é o excesso de passado no presente, e há tanto passado em você, talvez por isso as nuvens, você sempre fugindo do passado, mas sem dar chance ao futuro.
No agora, sinto muito passado em mim, um passado que você deixou, e em alguns momentos me agarro a raiva, digo que ela é minha amiga, me impulsiona pra frente, pra longe do seu passado, do passado na forma de você.
Lembro me de uma discussão sobre os 5 estágios de pré morte e o luto, como isso agora parece tão indelevelmente providencial e irônico, era onde eu deveria ter percebido tudo, mas estava muito confiante, acreditei que você era mais uma das minhas vitorias, meu ano perfeito, tudo se encaixando, mas a verdade mórbida era que algo a muito tempo morreu em você e viver no passado te fez tornar se ele, perdeu sua identidade justamente para aquilo (e aquele) que te causa mais dor, mais uma vez irônico tornar se algo que se odeia.
Mas é foi minha grande saída, da dor, do passado, de você. Vi que a raiva não é minha amiga, mas foi sua. Não me permito te odiar, também já não o amo, porem me liberto para que não sinta por você o que sentiu por seu passado, pois no agora você é o meu passado e esse ciclo vicioso acaba aqui, não me tornarei o que odeio, o que me feriu não será meu meio de ferir. Entenda não estou oferecendo a outra face, não sou esse tipo de idiota, nem mesmo me sento sublime a ponto de uma total abstração, somente estou rompendo com esse pacto de dor, afinal ele é seu e não meu, mesmo que você o tenha causado a mim também, assim como cada objeto que devolvi assim também devolvo seu excesso de passado.

Percebi que esses meses foram uma ilusão, que em parte sim aproveitei, mas uma ilusão por eu ter me anulado, devo assumir por sua causa eu não criei nada nestes meses, mas foi ficar sem você e estou novamente fazendo boa arte, cometendo erros fantásticos, como diria Neil Gaiman. Sou ateu, mas pequei ao trocar minhas asas pelo seu passado.  Mas no agora eu as sinto novamente, por que no agora não há mais o excesso de você.

domingo, 6 de julho de 2014

A visão freudiana e sua relevância para com o homem, ou “Édipo”, do século XXI:

Galileu tirou o homem do centro do Universo, Darwin do centro da criação, Freud por sua vez, mostrou ao homem o centro de si mesmo, revelou o inconsciente demonstrando que muito do que se acreditava ser concebido por uma ação livre e objetiva era reflexo às respostas que se quer cogitava-se fazer. Embasado em uma visão existencialista, Freud provocou e ainda provoca a sociedade e o homem a se desafiar conhecer seus medos e desejos, suas pulsões e seus recalques, portanto há que se afirmar que o pai da Psicanálise não só ainda explica como também questiona.
Assim, mesmo após 70 anos de sua morte, o psicanalista que foi mestre de Jung e Adler, por exemplo, tornou-se o símbolo de sua própria ciência, indo muito além e tornando se parte da cultura pop e em um mundo onde a socialização e a individualização são os norteadores conflitantes mais ativos, as teorias de Freud se tornaram ainda mais relevantes, ainda mais considerando o acesso a informação constante, sexualidades expressivas e o embate entre ciência e religião, as concepções freudianas apresentam-se tão relevantes quanto a visão de Nietzsche.
Ainda que outras abordagens da psicologia critiquem as máximas quanto à sexualidade que a psicanálise apresenta, há muito mais que o complexo de Édipo na obra de Freud, fundamentos como pulsão de morte, histeria, hipnose (esta baseada nos ensinamentos de Charcot), tratamento por associação livre, além da famosa interpretação dos sonhos demonstram a versatilidade e o quanto do trabalho de Sigmund Freud ainda é atual, senão visionário. Portanto, aos que se colocam contra e dizem que a psicanálise se baseia apenas em afirmar questões de impulsos sexuais, há que lembrar-se que o próprio Freud em determinado momento disse “às vezes um charuto é apenas um charuto”.
Com isso, Freud demonstra que a psique humana é muito mais complexa que se pensava, a imagem de um iceberg é o que melhor se ilustra quando ao que se sabe da mente, com o inconsciente submerso, os segredos, impulso, desejos, medos, fantasias e razões carecem de investigação para o autoconhecimento e conhecer alguém em sua totalidade torna-se impossível.
O que Freud fez foi reascender o fogo do oráculo de Delfos, e a frase “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo” nunca fez tanto sentido, no entanto isso é tarefa de uma vida. A construção da personalidade nunca para, as vivências e tragédias são agentes transformadores afetando em maior e menor escala de forma consciente e inconsciente, ser verdadeiro consigo mesmo em dados momentos pode ser mais difícil que a interação com o desconhecido, o homem acaba sendo fruto de elementos que ele mesmo desconhece em sua criação e em sua época.
Assim, o ser e o ter se confundem na sociedade atual e a persona se vê suprimida pelo fluxo constante de informações e necessidades de interação com o meio, o contato com o interior é recalcado junto com o que se considere uma emoção socialmente negativa, o homem deseja, mas se nega ao ato de desejar, mais do que ao próprio desejo, sendo o que se espera que ele seja e não o que ou quem realmente é.

Freud abriu a porta, a grande guerra deste milênio é individual, o desafio é o novo mito da caverna de Platão, ou o sair da Matrix, trazer elementos do inconsciente para a superfície e por mais que a psicologia e a psicanálise sejam parte da cultura e Freud um ícone mundial, as luzes da superficialidade parecem atrair muito mais a mente para a alienação do para a descoberta do inconsciente. Desta forma, Freud explica, mas cada um ao seu modo ainda procura complicar. 

Christian Duchovny - Americana-SP 06/07/2014

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Freud Além da Alma - Conheça-te a ti mesmo:

Sabe-se que a sólida formação psicanalítica passa pelo domínio teórico-técnico dos principais constructos conceituais, formulados por seu fundador: Sigmund Freud. A primeira série de estudos que Freud empreendeu tem uma importância particular ao desenvolvimento posterior de sua obra e produção, pois contém, resumida e potencialmente, hipóteses e princípios fundamentais que justificariam a psicanálise como um todo. No filme "Freud, além da alma", produção norte-americana de 1962, dirigida por John Huston, tem-se uma biografia romanceada do pai da psicanálise, mostrando sua trajetória de elaboração da teoria psicanalítica. O filme reconstrói a vivência e as descobertas de Freud, em Paris e na cidade de Viena, entre os anos de 1885 e 1890. 

Retratando de modo introspectivo a maneira como a vida pessoal de Sigmund Freud e as formulações psicanalíticas se desenvolvem em boa parte a partir dos estudos e experiências pessoais de Freud.
Assim, com seu interesse pela histeria Freud, inicia um questionamento dos métodos até então empregados, considerando a histeria como uma psiconeurose onde a divisão da mente ocorre devido aos conflitos entre vida representacional e um conteúdo reprimido. Logo Freud se vê atraído pelos estudos de Charcot  e a aplicação de hipnose no tratamento e observação da ação dos sintomas da histeria.
Em parceria com Breuer, Freud vem a elaborar a relação dos mecanismos psíquicos da histeria e lembranças reprimidas, algo que mais tarde viria a fomentar a teoria do trauma, contudo utilizando se da hipnose e do método catártico, Freud e Breuer observação o papel da repressão ao aplicarem tais métodos em um jovem que apresentava uma repulsa a água.
Certos aspectos da vida pessoal de Freud começam a dar forma também à suas teorias quando em uma sessão com um jovem que durante o transe hipnótico diz desejar cometer parricídio, por amar a própria mãe, Freud começa a ter sonhos estranhos que de certa forma o colocam na mesma situação, elementos estes que mais tarde dariam forma ao Complexo de Édipo e a Teoria dos Sonhos.
Contudo, após o conflito pessoal com tais ideias, Freud retoma os estudos com histeria, e postula que as neuroses estariam todas relacionadas com traumas de cunho sexual. Breuer se opõem a teria da sexualidade de Freud já neste momento, mesmo ela ainda não tendo tomado toda sua formulação.
Quando a paciente desenvolve uma gravidez psicológica direcionada por seus sentimentos pro Breuer, este se afasta do tratamento deixando-a aos cuidados de Freud, contudo é possível notar que a projeção de sentimentos da paciente por Breuer ais poucos vão sendo direcionadas para Freud, sendo caracterizada a transferência, fantasias que a jovem tinha pelo pai e foram sendo projetadas em Breuer e Freud.
Se afastando e vez dos métodos de hipnose e catártico, Freud começa a aplicar o método de associação livre e mesmo se autoanalisando percebe sempre o fator sexual sempre presente na formação infantil. Com isso passa a caracterizar elementos simbólicos além da teoria do trauma, o que por si vem a gerar questionamento quando a conduta das figuras genitoras e o desenvolvimento sexual e a divisão das fases na infância, dando vasão a teoria da fantasia, no momento em que Freud nota que suas lembranças referentes ai pai, que havia falecido a pouco e o sentimentos projetados da paciente caracterizam não um trauma sexual factual, mas uma fantasia ou desejo reprimido tendo como fonte de erotização os pais.
Com isso, tais descobertas vêm a colocar ainda mais a sexualidade no centro de sua linha teórica, pontuando o papel sexual desde cedo na infância, diretamente logo após o nascimento onde a associação de um afeto de satisfação biológica (a alimentação) e o contato e afago da mãe fundamentam a ação da pulsão e da libido.
Assim o conflito com Breuer e a resistência da visão puritana da época são inevitáveis, as teorias de Freud são recebidas com resistência, sendo até a postura irônica por parte dos médicos do conselho uma analogia direta a formulação do conceito de repressão e resistência no aparelho psíquico. Contudo Freud expõe a visão de que a criança possui o desejo sexual direcionado à mãe porem encara o pai como um oponente, citando Édipo, sendo também implícitos os conceitos das fases do desenvolvimento sexual (Oral, anal, fálica e genital).

A obra pontua, mesmo que em determinados momentos de uma forma não linear de acontecimentos e mais romantizada, toda a postulação inicial das teorias psicanalíticas, mesmo deixando em aberto que haveria muito mais a ser produzido por Freud, finaliza com uma analogia a um encontro introspectivo, onde Freud adentra o cemitério onde o pai esta sepultado, sendo que antes lhe era impossível entrar por estar em conflito com conteúdos psíquicos que lhe produziam um sintoma histérico diante da ideia do pai morto e seus desejos parricidas. 

Sinopse e detalhes

1885. Enquanto a maioria de seus colegas se recusa a tratar a histeria acreditando tratar-se simulação, Sigmund Freud (Montgomery Clift) faz avanços usando a hipnose. Sua principal paciente é uma jovem que não bebe água e é atormentada diariamente pelo mesmo pesadelo.

Jean-Paul Sartre escreveu um roteiro para o filme a pedido do diretor, John Huston. Seu texto foi rejeitado por ser muito longo e acabou publicado como livro: "The Freud Scenario". Sartre queria que Marilyn Monroe interpretasse Cecily Koertner.

domingo, 9 de março de 2014

Suspiro de um louco sobre os gênios

Os gênios que criaram a psicanálise, revolucionaram a ciência e evoluíram na filosofia foram considerados como loucos ou narcisistas. Acusados que estavam no templo do abstrato porque foram raros esses seres humanos que apareciam e não eram compreendidos. Para eles, os talentosos, escondidos nas alcovas inspiradoras apenas queriam meter o serviço deles em pró da sociedade.
Einstein crucificava-se a si mesmo: A sua mente fervilhava permanentemente. Em adulto na Universidade investigou física e criou a teoria da relatividade, para apresentar às plateias. O público das suas apresentações não entenderam e os professores consideravam alucinado diziam que tinha de submeter-se ao público das apresentações. As gargalhadas eram presentes em cada sessão pública. Einstein pensava para ele próprio: Me compreenderão, excepto se não assimilarem a minha descoberta.Nietzsche pesquisou filosofia e criou a teoria do eterno retorno, contudo a apreciação geral foi condenada. Quando aparecia nos seminários sobre o tema, as pessoas comportavam-se da mesma forma. Por vezes quando frequentava o café, os conhecidos daquele espaço começavam às risadas prolongadas. Nietzsche refletiu: Se algum dia pensarem sobre o assunto, me darão razão.Freud estudou a psicologia humana, abrindo o campo para a psicanálise e criou a teoria da dissociação sexual. Foi humilhado, condenado e julgado pelos médicos. A medicina sempre considerou que a psicologia não era uma ciência. A discussão percorreu várias décadas, enquanto isso Freud passava o seu tempo analisar os pacientes.Por esses motivos, os gênios raramente mostravam o seu sorriso...o sorriso que é a lei principal das relações humanas, portanto, os humanos estão sempre a rir, tanto do absurdo como do cômico. Oh, que lamentável, mas é a natureza humana! Algumas palavras de consolação e apoio saíram de uma terra longínqua, porém não chegavam aos ouvidos dos três gênios.A relevante inteligência mesmo assim acompanhou a alma deles...até ao fim dos seus dias. Nunca deixaram de procurar o conhecimento para oferecer à humanidade? E a humanidade o que fez? Estavam ocupados, demasiado empregados. Passado meses, anos e séculos o julgamento foi sempre o mesmo. Pronto, é esta apreciação geral.De um dia para outro, certos investigadores, pesquisadores, cientistas, psicólogos, filósofos descobriram que essas teorias dos índoles tinham revolucionado o mundo, e não só.Esse núcleo de investigação como tinha capacidades de marketing, e poder de divulgação, criaram slogans para chegar aos milhões: Freud, Einstein e Nietzsche foram divinos! Em conferências públicas aclamaram: "Foram o progresso e evolução dos campos da filosofia, ciência e psicologia. Foram ambos dotados dos tempos, e espaços. Hoje em dia descobrimos a importância que abriram ao conhecimento destes campos. Não podemos negar o que contribuíram para evolução da ciência. Estamos gratos por essa sabedoria é magnífico!" O discurso brilhava ao novo mundo de seres humanos rapidamente tornou-se um sucesso popular e financeiro.As três teorias produziram lucros espantosos. Em homenagem criaram três estátuas, em Califórnia. Construíram as três estátuas de forma triangular como tivesse a discutir as três teorias: corpo erecto cumprido, magros, altos, e com um sorriso largo nos lábios; O mesmo reconhecimento que nunca tiveram em vida...

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O que é o inferno?

Mesmo diante de um calor tremendo a ideia de um inferno de fogo não era capaz de convencer uma mente inquieta e naquele momento incomodada.
Nem mesmo qualquer noção bíblica, mitológica ou fictícia faria sentido para alguém tão racional, no entanto a palavra inferno não podia simplesmente ser descartada daquele momento...
Momento, talvez esta fosse à chave. Aquele era o momento em q o inferno se tornava palpável. Uma noite quente de verão, um país de terceiro mundo, uma luta constante por se destacar, a convivência complicada com outros seres humanos que na maior parte do tempo, ou naquele momento, faziam muito bem seu papel de agentes do inferno.
Não que aquele fosse um estado de espirito infernal, mas que em suma realmente o inferno estava presente.
Parando pra pensar o que mais faz sentido quando se pensa em inferno é um momento repetido por toda a eternidade, mas isso não era convincente o bastante, o inferno deveria ser mais criativo, mais provocador.
Esperança! Era essa a chave do inferno, tanto de entrada quanto saída, pois como acreditar no inferno se não acreditar que pode se livrar dele. Estar conformado anula toda a dinâmica infernal.
Era isso, naquela noite aquela mente estava inconformada e por isso o inferno se mostrou com toda força.
Mas não era o momento se repetindo que causava o inconformismo, era a mentira ser exigida como forma de verdade, como se isso fosse possível. Não que aquele fosse um homem santo em conflito com as dores do mundo, ele nem mesmo acreditava em santos, deuses, anjos, demônios ou no inferno. Mas ele acreditava na verdade, não era uma verdade própria, ou inefável, era simplesmente cumprir com seu dever, não estar em segundo algum amarrado aos joguetes alheios.
E ainda assim o inferno chegou. E quando chegou, chegou culpando a quem não mentiu, e era isso, não era o momento, era a culpa, e nem era sua culpa, mas sim um reflexo do fracasso dos outros. Como alguém pode carregar os erros dos outros? Não, não falem de Cristo ou qualquer outra divindade ou semi divindade que supostamente tenha se sacrificado, isso nem mesmo corresponde a raiz da palavra.
O inferno são os outros? Quase isso. O inferno é culpa dos outros. Caramba, imagina aqueles condenados injustamente...


Christian Duchovny – Americana –SP 05/02/2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Escreva uma história

“Escreva uma história”. A  voz disse e mesmo distante ainda ecoava em sua lembrança cada vez que ele sentava- se diante do computador. Era sua sentença, seu legado, mas estava naquela página em branco, sussurrando, implorando para ser lapidado pelas palavras que dançavam em sua mente.
Mas com começar? Qual foi o momento que mudou tudo e se fez necessário se contar, o segundo que se fez merecedor de ser marcado naquela pagina?
Em uma época em que qualquer um se dizia escritor, ele não queria ser só mais um, ele era amante do velho romance, da classe dos poemas, da curiosidade dos pequenos e grandes contos. Sua mente era um salão de ideias românticas, de suspenses e fantasias nascidas no velho mundo.
Como começar uma história que não o envergonhasse diante dos mestres, amigos, mentores e companheiros de aventuras que o permitiram entrar e mergulhar em obras tão inspiradoras, logo ele que se banhou nas margens de livros que o fizeram diversas vezes desejar não retornar ao mundo real e em tantas outras o fez duvidar se o mundo era real...
“Escreva uma história”, a voz insistia. Mas como? Como ser digno de libertar a torrente de ideias, criar um mundo, quando todos os mundos que ele amava já haviam sido criados... Mundos que ensinaram tanto a ele. Mundos que mostram o valor da amizade na Terra Média, ensinaram magia em Hogwarts, mostraram que era preciso se preparar quando o inverno está chegando, mundos onde com um punhado de areia era possível sonhar, com coragem era possível dar a volta ao mundo e não demoraria mais q 80 dias. Mundos onde o medo assombrava velhos hotéis e uma pintura de Da Vinci era a chave do mistério, um mundo onde você para pra escutar quando a morte conta uma história...
Eles foram seus guias, disseram “faça boa arte” e agora a voz o provocava mais do que nunca, parecia sentir que a barragem não mais o seguraria. Uma história precisava ser contada, em algum lugar alguém aguardava esse mundo.

Disseram pra ele seguir o coelho branco e agora lá estava ele diante da página em branco e a voz do coelho disse “Escreva uma história...” e quando ele tocou a primeira tecla a página se transformou. Ele se sentia caindo pela toca do coelho a cada letra e quando ele se entregou, a história começou...

Christian Duchovny - Americana-SP 21/01/2014