domingo, 6 de julho de 2014

A visão freudiana e sua relevância para com o homem, ou “Édipo”, do século XXI:

Galileu tirou o homem do centro do Universo, Darwin do centro da criação, Freud por sua vez, mostrou ao homem o centro de si mesmo, revelou o inconsciente demonstrando que muito do que se acreditava ser concebido por uma ação livre e objetiva era reflexo às respostas que se quer cogitava-se fazer. Embasado em uma visão existencialista, Freud provocou e ainda provoca a sociedade e o homem a se desafiar conhecer seus medos e desejos, suas pulsões e seus recalques, portanto há que se afirmar que o pai da Psicanálise não só ainda explica como também questiona.
Assim, mesmo após 70 anos de sua morte, o psicanalista que foi mestre de Jung e Adler, por exemplo, tornou-se o símbolo de sua própria ciência, indo muito além e tornando se parte da cultura pop e em um mundo onde a socialização e a individualização são os norteadores conflitantes mais ativos, as teorias de Freud se tornaram ainda mais relevantes, ainda mais considerando o acesso a informação constante, sexualidades expressivas e o embate entre ciência e religião, as concepções freudianas apresentam-se tão relevantes quanto a visão de Nietzsche.
Ainda que outras abordagens da psicologia critiquem as máximas quanto à sexualidade que a psicanálise apresenta, há muito mais que o complexo de Édipo na obra de Freud, fundamentos como pulsão de morte, histeria, hipnose (esta baseada nos ensinamentos de Charcot), tratamento por associação livre, além da famosa interpretação dos sonhos demonstram a versatilidade e o quanto do trabalho de Sigmund Freud ainda é atual, senão visionário. Portanto, aos que se colocam contra e dizem que a psicanálise se baseia apenas em afirmar questões de impulsos sexuais, há que lembrar-se que o próprio Freud em determinado momento disse “às vezes um charuto é apenas um charuto”.
Com isso, Freud demonstra que a psique humana é muito mais complexa que se pensava, a imagem de um iceberg é o que melhor se ilustra quando ao que se sabe da mente, com o inconsciente submerso, os segredos, impulso, desejos, medos, fantasias e razões carecem de investigação para o autoconhecimento e conhecer alguém em sua totalidade torna-se impossível.
O que Freud fez foi reascender o fogo do oráculo de Delfos, e a frase “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo” nunca fez tanto sentido, no entanto isso é tarefa de uma vida. A construção da personalidade nunca para, as vivências e tragédias são agentes transformadores afetando em maior e menor escala de forma consciente e inconsciente, ser verdadeiro consigo mesmo em dados momentos pode ser mais difícil que a interação com o desconhecido, o homem acaba sendo fruto de elementos que ele mesmo desconhece em sua criação e em sua época.
Assim, o ser e o ter se confundem na sociedade atual e a persona se vê suprimida pelo fluxo constante de informações e necessidades de interação com o meio, o contato com o interior é recalcado junto com o que se considere uma emoção socialmente negativa, o homem deseja, mas se nega ao ato de desejar, mais do que ao próprio desejo, sendo o que se espera que ele seja e não o que ou quem realmente é.

Freud abriu a porta, a grande guerra deste milênio é individual, o desafio é o novo mito da caverna de Platão, ou o sair da Matrix, trazer elementos do inconsciente para a superfície e por mais que a psicologia e a psicanálise sejam parte da cultura e Freud um ícone mundial, as luzes da superficialidade parecem atrair muito mais a mente para a alienação do para a descoberta do inconsciente. Desta forma, Freud explica, mas cada um ao seu modo ainda procura complicar. 

Christian Duchovny - Americana-SP 06/07/2014

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