segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

É possível deixar o próprio corpo e até assumir outro

Experiências fora do corpo

Deixe o seu corpo, aperte sua própria mão ou até mesmo mude para um corpo robótico por um tempo.

O neurocientista sueco Henrik Ehrsson chefia uma das equipes que está demonstrando que tudo isso é possível porque a imagem que o cérebro tem do corpo é, por assim, dizer, negociável.

Ele foi um dos apresentadores de uma seção sobre o assunto na reunião da Sociedade Americana para o Progresso da Ciência, que está acontecendo nos Estados Unidos nesta semana.

O desenvolvimento desse campo de pesquisas deverá permitir desde o desenvolvimento de novas próteses sensíveis ao toque e próteses comandadas pelo pensamento, até melhores robôs e mundos virtuais mais convincentes.

Percepção do próprio corpo

As descobertas vêm do estudo de questões aparentemente simples: Como o cérebro realmente identifica o corpo a que pertence? E por que nós sentimos o centro da nossa consciência como estando localizado dentro de um corpo físico?

Em uma série de experimentos realizados no Instituto Karolinska, Ehrsson e seus colegas demonstraram que a percepção que o cérebro tem do corpo no qual ele está embarcado pode alterar-se consideravelmente.

Manipulando os diferentes sentidos de forma coordenada, os pesquisadores fizeram com que os voluntários sentissem que seu corpo repentinamente incluía membros artificiais e até mesmo que haviam saído inteiramente do seu corpo e entrado em outro.

"Ao esclarecer como o cérebro normal produz um sentimento de posse do corpo, podemos aprender a projetar essa propriedade em organismos artificiais e organismos virtuais simulados, e até mesmo fazer duas pessoas experimentarem a troca de corpos entre si," disse Ehrsson em sua apresentação.

Relação entre corpo e mente

A pesquisa aborda questões fundamentais sobre a relação entre mente e corpo, que têm sido tema de discussões teológicas, filosóficas e psicológicas ao longo de séculos, mas que só recentemente começaram a ser objeto de estudos experimentais acadêmicos.

A chave para resolver o problema, segundo os pesquisadores, é identificar os mecanismos multissensoriais através dos quais o sistema nervoso central distingue entre os sinais sensoriais do próprio corpo e os sinais do meio ambiente.

A pesquisa pode ter implicações importantes em múltiplas áreas, como o desenvolvimento de próteses de mão com sensações mais próximas das mãos reais e uma nova geração de aplicações de realidade virtual, onde o sentido do self é projetado sobre "corpos virtuais" gerados por computador.

Teletransporte do self

Os cientistas estão agora estudando que tipo de corpo o cérebro pode ser levado a perceber como sendo o seu próprio.

O self pode, por exemplo, ser transferido para um corpo de outro sexo, idade e tamanho, mas não para objetos como blocos ou cadeiras.

Um projeto atualmente em curso, com potenciais aplicações em robótica, está analisando se o corpo percebido pode ser reduzido ao tamanho de uma boneca Barbie. Outro está estudando se o cérebro pode aceitar um corpo com membros adicionais.

"Isso poderia dar a pessoas paralisadas um terceiro braço protético, que eles perceberiam como sendo real", concluiu Ehrsson.

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