No agora tudo parece convergir, todas conversas, todos os
acasos, as pequenas coincidências, todos os olhares distantes... No agora há
aquela certeza dolorosa, mais dolorosa do que as madrugadas de duvida em que
compartilhamos o seu desespero.
Porem ainda há uma parte que trocaria as madrugadas do agora
por aquelas em o telefone era a única conexão para não te fazer desistir de si
mesmo. Não acredito que em momento algum tenha te salvado, vejo de algum modo
agora, que você nunca quis o fim, apenas tinha um medo muito grande do
amanhecer... E no agora eu entendo, sem duvida alguma o amanhecer é a pior
parte.
Nas madrugadas do agora há a dor, mas minha mente ousou
perscrutar cada momento do passado, cada segundo, cada convergência. Tudo começou
tão rápido, tão intenso, como se a vida toda fosse uma preparação para aquele
encontro, como se o feitos um para o outro fosse real... Mas a verdade é que
não se pode esperar muito de um sentimento que literalmente começou nas nuvens.
Uma vez ouvi que depressão é o excesso de passado no
presente, e há tanto passado em você, talvez por isso as nuvens, você sempre
fugindo do passado, mas sem dar chance ao futuro.
No agora, sinto muito passado em mim, um passado que você
deixou, e em alguns momentos me agarro a raiva, digo que ela é minha amiga, me
impulsiona pra frente, pra longe do seu passado, do passado na forma de você.
Lembro me de uma discussão sobre os 5 estágios de pré morte e
o luto, como isso agora parece tão indelevelmente providencial e irônico, era
onde eu deveria ter percebido tudo, mas estava muito confiante, acreditei que
você era mais uma das minhas vitorias, meu ano perfeito, tudo se encaixando,
mas a verdade mórbida era que algo a muito tempo morreu em você e viver no
passado te fez tornar se ele, perdeu sua identidade justamente para aquilo (e
aquele) que te causa mais dor, mais uma vez irônico tornar se algo que se
odeia.
Mas é foi minha grande saída, da dor, do passado, de você.
Vi que a raiva não é minha amiga, mas foi sua. Não me permito te odiar, também
já não o amo, porem me liberto para que não sinta por você o que sentiu por seu
passado, pois no agora você é o meu passado e esse ciclo vicioso acaba aqui,
não me tornarei o que odeio, o que me feriu não será meu meio de ferir. Entenda
não estou oferecendo a outra face, não sou esse tipo de idiota, nem mesmo me
sento sublime a ponto de uma total abstração, somente estou rompendo com esse
pacto de dor, afinal ele é seu e não meu, mesmo que você o tenha causado a mim também,
assim como cada objeto que devolvi assim também devolvo seu excesso de passado.
Percebi que esses meses foram uma ilusão, que em parte sim
aproveitei, mas uma ilusão por eu ter me anulado, devo assumir por sua causa eu
não criei nada nestes meses, mas foi ficar sem você e estou novamente fazendo
boa arte, cometendo erros fantásticos, como diria Neil Gaiman. Sou ateu, mas
pequei ao trocar minhas asas pelo seu passado.
Mas no agora eu as sinto novamente, por que no agora não há mais o
excesso de você.