Uma noite ele percebeu que estava sozinho, realmente só. Não
do tipo que de alguma forma foi deixado para trás.
Ele estaria só mesmo que estivesse acompanhado. Havia em um
insight que aquele era o momento, o teste do herói, mesmo que aquilo
o tornasse um vilão.
Mas de toda forma não importava, ele sempre foi um outsider,
não se preocupava em agradar, em se encaixar e era exatamente isso que fazia
toda a diferença em estar só. Ele estava preparado.
Nunca houve um deus olhando por ele lá em cima. Os demônios sempre
caminharam na Terra, cruzaram inúmeras vezes seu caminho, alguns o chamaram de
amigo e todos eles se encaixavam, eram parte da multidão, parte da paisagem.
Mas ele não. Naquela noite ele concluiu que inexoravelmente estava
sozinho.
Em dias incertos, dias de mudanças, de angustia, estar
sozinho fazia toda diferença. Ele sabia que era o momento em que suas
habilidades seriam postas a prova, o único que poderia vencê-lo era o medo de
se arriscar. Mas seu grande risco foi algum dia querer se sentir seguro, esse
era o peso, esse era o abismo.
Ele estava só e mesmo sendo filho dos ventos, precisava
novamente aprender a desafiar os céus, fazer de seus pensamentos e sonhos a matéria-prima
de suas verdades.
E naquela noite em que ele se percebeu realmente sozinho,
ele sabia que iria rolar na cama, como se a madrugada fosse uma perpetua
carrasca, pois seus sonhos não habitavam mais em seu leito, mas no raiar do dia
seguinte. Sonho na forma de um novo e solitário salto, desafiando os céus,
desafiando o abismo...
Nem herói, nem vilão, apenas aquele que em uma noite sozinho
se consumiu nas chamas de suas ideias... um pistoleiro solitário.
Christian Duchovny, Americana-SP 20/01/2014
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