Um garoto genial e tímido, mas mimado, revoltado, vingativo, ganancioso, trapaceiro, arrogante e que passa o dia de chinelo de avô e moletom. Em 140 caracteres, essa é uma descrição que se pode fazer de Mark Zuckerberg, tendo-se apenas como base “A rede social”, filme de David Fincher que encerra a 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo nesta quinta-feira (4).
Os atores Jesse Eisenberg (sentado) e Joseph Mazzello durante cena do filme 'A rede social'. Longa-metragem estreia no Brasil no dia 3 de dezembro
O longa, que só estreia no Brasil em 3 de dezembro, é vendido como a história do Facebook, maior rede social do planeta com mais de 500 milhões de usuários. Mas a primeira coisa a se saber sobre ele é que se trata de um filme sobre Zuckerberg, um prodígio da computação que se tornou bilionário aos 23 anos, cuja história serve para Fincher traçar um crítico retrato da juventude 2.0., desregrada e ensimesmada.
Copia e cola
“A rede social” tem como pano de fundo a Universidade de Harvard do ano 2003. Zuckerberg (Jesse Eisemberg) é um jovem estudante que acaba de ser largado pela namorada. Para se vingar, ele se torna um blogueiro sociopata que destrói a reputação dela e, em seguida, cria ao lado do programador brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield) um aplicativo batizado de Facemash, cujo mote é ranquear e criar uma disputa de beleza entre as universitárias.
A invenção o torna popular pela primeira vez. Três amigos geeks o convidam então para ajudar a pôr no ar um projeto pessoal deles: uma rede social universitária, de nicho, em que os cadastrados poderão se relacionar sabendo exatamente quem é a pessoa por trás da tela do monitor.
Enquanto eles investem no site, Zuckerberg se tranca em seu quarto e, num belo copia e cola, pega os elementos dos colegas e os aprimora para aquilo que se tornaria o seu “The Facebook”, um hit instantâneo em Harvard e em outras faculdades americanas e europeias.
Thriller nerd
Ter acesso aos bastidores da criação de uma rede social virtual não parece nada atraente, tudo bem, mas é aqui que entra o olhar de Fincher. A narrativa não é linear e mescla cenas do passado com presente, como Zuckerberg programando e se defendendo no tribunal universitário de seus ex-colegas que lutam pelo crédito a que têm direito.
Essas cenas de disputa são tensas e servem para apresentar uma bela geração de novos atores que vêm por aí. Eisemberg tem uma quietude arrogante: ele não sorri nem altera o tom de voz e criou um irritante trejeito de falar atropelando as palavras. Garfield, que em breve será o novo Homem-Aranha, destaca-se pela carga dramática que emprega ao seu personagem, o melhor amigo de Zuckerberg que leva uma rasteira daquelas.
Armie Hammer, que faz os gêmeos Winklevoss, está tão bem que nem parece um mesmo ator em dois papéis. Já Justin Timberlake também está ótimo na pele do escroque Sean Parker, cocriador do Napster e um dos primeiros a enxergar um potencial de negócios no Facebook.
“A rede social” é um filme atual não por ser apenas do Facebook mas por abordar questões pertinentes como o bullying virtual ou a falsa sensação de poder que a internet pode criar. Isso sem falar na questão dos direitos autorais em tempos de web colaborativa e até mesmo na crise da indústria fonográfica.
Fora isso, a edição alucinante e claustrofóbica de Fincher, pontuada com os ótimos diálogos do roteiro de Aaron Sorkin (da série “The west wing”) e a nervosa trilha sonora de Trent Reznor (do Nine Inch Nails), fazem do filme um thriller dos bons. Um thriller nerd dos bons.
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