“Escreva uma história”. A voz disse e mesmo distante ainda ecoava em sua
lembrança cada vez que ele sentava- se diante do computador. Era sua sentença,
seu legado, mas estava naquela página em branco, sussurrando, implorando para
ser lapidado pelas palavras que dançavam em sua mente.
Mas com começar? Qual foi o momento que mudou tudo e se fez
necessário se contar, o segundo que se fez merecedor de ser marcado naquela
pagina?
Em uma época em que qualquer um se dizia escritor, ele não
queria ser só mais um, ele era amante do velho romance, da classe dos poemas,
da curiosidade dos pequenos e grandes contos. Sua mente era um salão de ideias românticas,
de suspenses e fantasias nascidas no velho mundo.
Como começar uma história que não o envergonhasse diante dos
mestres, amigos, mentores e companheiros de aventuras que o permitiram entrar e
mergulhar em obras tão inspiradoras, logo ele que se banhou nas margens de
livros que o fizeram diversas vezes desejar não retornar ao mundo real e em
tantas outras o fez duvidar se o mundo era real...
“Escreva uma história”, a voz insistia. Mas como? Como ser
digno de libertar a torrente de ideias, criar um mundo, quando todos os mundos
que ele amava já haviam sido criados... Mundos que ensinaram tanto a ele.
Mundos que mostram o valor da amizade na Terra Média, ensinaram magia em
Hogwarts, mostraram que era preciso se preparar quando o inverno está chegando,
mundos onde com um punhado de areia era possível sonhar, com coragem era possível
dar a volta ao mundo e não demoraria mais q 80 dias. Mundos onde o medo
assombrava velhos hotéis e uma pintura de Da Vinci era a chave do mistério, um
mundo onde você para pra escutar quando a morte conta uma história...
Eles foram seus guias, disseram “faça boa arte” e agora a
voz o provocava mais do que nunca, parecia sentir que a barragem não mais o
seguraria. Uma história precisava ser contada, em algum lugar alguém aguardava
esse mundo.
Disseram pra ele seguir o coelho branco e agora lá estava
ele diante da página em branco e a voz do coelho disse “Escreva uma história...”
e quando ele tocou a primeira tecla a página se transformou. Ele se sentia
caindo pela toca do coelho a cada letra e quando ele se entregou, a história
começou...
Christian Duchovny - Americana-SP 21/01/2014
Christian Duchovny - Americana-SP 21/01/2014