Nascer Entre Os Que Se Foram
Criada por Alan Ball (o homem por trás do roteiro genial de Beleza Americana), a história tem um início trágico: a morte de Nathaniel Fischer por acidente de carro. O impacto dessa morte é sentido com intensidade por todos na família, que não chega a ser um exemplo de união, mas, assim como na vida real, o amor nem sempre está explicito em A Sete Palmos. Após a morte de Nathaniel, Nate (filho – Peter Krauser), David (filho – Michael C. Haal), Ruth (esposa – Francês Conroy) e Claire (filha – Lauren Ambrose) se vêem obrigados a lidar com a casa mortuária que é também o lar de boa parte da família.
A riqueza de personalidades é o maior atrativo de A Sete Palmos, é algo que possibilita abordagens de problemas e situações em diversos pontos de vista, que nem sempre parecem estar certos ou errados quando conhecemos tão bem os personagens. Nate é o filho mais velho, sempre teve problemas com a profissão do pai. O medo de se tornar mais um funcionário de Nathaniel o fez sair de casa cedo, algo não tão bem compreendido, principalmente por Ruth. Ele volta para casa exatamente no dia em que o pai morre. Obrigado a ficar e ajudar no emocional e financeiro da família, Nate descobre muito mais sobre si e sobre sua família do que achava possível.
A matriarca dos Fischer (interpretada com intensidade por Frances Conroy) é uma mulher solitária por natureza, uma serva fiel de uma família pouco dedicada a gestos casuais de afetividade e isso a torna uma caçadora desesperada de afeto, algo que a faça sentir recompensada por tudo o que já precisou passar. David, por outro lado, sempre foi muito bom em esconder seus sentimentos por trás de uma aparência mais séria e formal. No começo é de se imaginar que seria para esconder seu homossexualismo, mas depois fica claro que a fragilidade de David é muito mais que apenas medo do preconceito. É um trabalho memorável de Michael C. Hall, que só ganha ainda mais crédito quando confrontamos as personalidades de David e Dexter.
No meio do turbilhão Claire surge como uma adolescente em fase de rebeldia, aquele caso típico de jovens que se mantém afastados por medo do que pode vir a acontecer. É o personagem que mais se desenvolve na trama, mesmo porque a idade com que é pega e o modo como os roteiristas a fazem crescer diante de nossos olhos é fantástica, não menos fantástico que o trabalho de Lauren Ambrose, sempre atenta entre os níveis de rebeldia e fragilidade que sua personagem exigia.
O time de roteiristas e diretores é de uma habilidade marcante. Além do próprio Alan Ball, há um verdadeiro time de profissionais foram capazes de conferir uma qualidade estável ao seriado, entre eles Bruce Eric Kaplan (3 epi. Seinfield) e Kathy Bates, que dirigiu cinco episódios e ainda participa da série como Bettina, amiga de Ruth.
Melhor Estar Entre Os Mortos
Lidar com uma aura tão pesada não é tarefa fácil, diria mais: é fácil, sim, cair em armadilhas de soluções práticas para o desenrolar das situações. Algo que não é o caso de A Sete Palmos. O clima irônico que a constante presença da morte confere ao seriado é chave não apenas para um escape de emoções um tanto melancólicas, mas também para a própria narrativa. O uso clichê de narradores perde espaço para uma solução não tão inovadora, mas que em A Sete Palmos, ganha ainda mais profundidade. Com exceção de Nathaniel, uma presença constante em quase todo o seriado, os mortos aparecem como reflexos dos pensamentos daquele personagem com quem está conversando, é como se o próprio morto fosse um narrador dos pensamentos daquele com quem ele conversa.
O seriado quase sempre começa com a morte de alguém, que se tornará cliente dos Fischer. Muitas vezes a própria história de vida (ou morte) se torna base para uma reflexão
Os Amigos Dos Fischer
Se há algo unânime é a qualidade dos artistas envolvidos na trama. Vai dos principais até a mais especial das participações. Mas um setor que se destaca é o elenco de apoio, que muitas vezes toma a frente e dá um verdadeiro show. É o caso de Rachel Griffiths. Como Brenda Chenowith, a atriz ao lado do ótimo Peter Krause (Nate) forma um dos casais mais humanos da TV. Mathew Patrick também é presença fundamental como o namorado de David, Keith. Os dois são base para discussões que vão muito além da aceitação social.
E como deixar de lado um dos personagens que mais conviveu com a família. Rico Diaz são poderia estar em melhores mãos que as de Freddy Rodrigues. O ator desempenha o melhor trabalho de sua carreira ao lado de um forte elenco, sem se deixar levar por maneirismos ou exageros.
Há também aqueles que participaram relativamente pouco, mas deixaram marcas no decorrer da série. Richard Jenkins e seu irreverente Nathaniel foi responsável por ótimos momentos, principalmente ligados ao simbolismo explorado em torno da vida após a morte; Patrícia Clarkson, como Sarah, a irmã de Ruth, papel super necessário para compreendermos melhor a vida de uma personagem tão sofrida; Ben Foster, como Russell, provavelmente o primeiro amor da vida de Claire, irreconhecível para quem vê tão pouco dele nos cinemas. Há uma lista gigantesca e cada um deles merece reconhecimento
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