Em 1996, um time de astrônomos liderados por David McKay, do Centro Espacial Johnson da Nasa, publicou um artigo na afamada revista “Science” anunciando a descoberta de uma evidência de atividade biológica fossilizada no meteorito ALH84001. Esse meteorito foi encontrado na Antártida e é na verdade um pedaço arrancado de Marte. Alguns impactos em Marte devem ter sido tão violentos que ejetaram pedaços de rochas da superfície e os colocaram no espaço. Alguns dos pedaços de rocha foram atraídos pela Terra e caíram por aqui. O processo inverso também deve ter ocorrido, mas como a gravidade de Marte é muito menor que a da Terra, deve haver mais destroços de Marte aqui, do que o inverso.
O meteorito ALH84001, em especial, mostrou ao ser analisado traços de nanocristais de magnetita em pequenos glóbulos de material carbonáceo que poderiam ter origem biológica. A hipótese de MacKay e seus colegas é baseada em processos similares que ocorrem na Terra, onde algumas bactérias encontradas na água e mesmo no solo secretam esses nanocristais. A ideia é que a magnetita encontrada no meteorito tem origem biológica por causa de sua semelhança. Seria a primeira evidência sólida de que teria havido vida em Marte. Seria.
O grande problema da descoberta foi a maneira com que ela foi divulgada. Todo artigo científico precisa passar por uma revisão de outros cientistas que atuam na mesma área. Chama-se revisão por pares (ou peer review). No caso de análises como essa, de meteoritos, uma amostra é mandada para outros grupos fazerem uma checagem semelhante para confirmar (ou não) as afirmações do artigo. Acontece que neste caso tudo foi atropelado. Por causa da importância e o impacto da possível descoberta, o anúncio foi feito antes da revisão por pares e da análise das amostras. O anúncio chegou a ser feito pelo presidente dos Estados Unidos, numa estratégia de marketing para pressionar o Congresso Americano a dar mais verba para enviar sondas à Marte.
Por causa do atropelo, muita gente torceu o nariz. A coisa ficou pior quando outros grupos mostraram que era possível, sob determinadas condições, obter os tais nanocristais de magnetita, tais quais os encontrados no meteorito. A magnetita presente em ALH84001 foi recriada em laboratório em um processo chamado de decomposição térmica de carbonáceos.
Agora, passados 13 anos, o mesmo grupo de astrônomos publicou outro estudo sobre o tema. Dessa vez, usando equipamentos de análise modernos (que não existiam naquela época) e passando por todos os rigores da revisão por pares, eles mostram que a hipótese biológica é a mais provável. Partindo da ideia da origem inorgânica, eles rebatem a noção de que a decomposição térmica de carbonatos pode dar origem aos cristais do meteorito. A conclusão é que a hipótese de origem orgânica é a mais plausível.
A conclusão é que a hipótese de origem orgânica é plausível, mas isso não significa que seja a única. Por enquanto, é a que melhor explica a origem da magnetita. Assim sendo, a teoria de que já tenha havido vida em Marte ganha força. E com ela uma esteira de possibilidades interessantes: se um pedaço de Marte chegou à Antártida com evidências fossilizadas de vida, não poderia um outro pedaço ter trazido um pouco dessa vida à Terra?
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