Galileu tirou o homem do centro do Universo, Darwin do
centro da criação, Freud por sua vez, mostrou ao homem o centro de si mesmo,
revelou o inconsciente demonstrando que muito do que se acreditava ser
concebido por uma ação livre e objetiva era reflexo às respostas que se quer
cogitava-se fazer. Embasado em uma visão existencialista, Freud provocou e
ainda provoca a sociedade e o homem a se desafiar conhecer seus medos e desejos,
suas pulsões e seus recalques, portanto há que se afirmar que o pai da
Psicanálise não só ainda explica como também questiona.
Assim, mesmo após 70 anos de sua morte, o psicanalista que
foi mestre de Jung e Adler, por exemplo, tornou-se o símbolo de sua própria
ciência, indo muito além e tornando se parte da cultura pop e em um mundo onde
a socialização e a individualização são os norteadores conflitantes mais
ativos, as teorias de Freud se tornaram ainda mais relevantes, ainda mais
considerando o acesso a informação constante, sexualidades expressivas e o
embate entre ciência e religião, as concepções freudianas apresentam-se tão
relevantes quanto a visão de Nietzsche.
Ainda que outras abordagens da psicologia critiquem as
máximas quanto à sexualidade que a psicanálise apresenta, há muito mais que o
complexo de Édipo na obra de Freud, fundamentos como pulsão de morte, histeria,
hipnose (esta baseada nos ensinamentos de Charcot), tratamento por associação
livre, além da famosa interpretação dos sonhos demonstram a versatilidade e o
quanto do trabalho de Sigmund Freud ainda é atual, senão visionário. Portanto,
aos que se colocam contra e dizem que a psicanálise se baseia apenas em afirmar
questões de impulsos sexuais, há que lembrar-se que o próprio Freud em
determinado momento disse “às vezes um charuto é apenas um charuto”.
Com isso, Freud demonstra que a psique humana é muito mais
complexa que se pensava, a imagem de um iceberg é o que melhor se ilustra
quando ao que se sabe da mente, com o inconsciente submerso, os segredos,
impulso, desejos, medos, fantasias e razões carecem de investigação para o
autoconhecimento e conhecer alguém em sua totalidade torna-se impossível.
O que Freud fez foi reascender o fogo do oráculo de Delfos,
e a frase “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os
deuses e o universo” nunca fez tanto sentido, no entanto isso é tarefa de uma vida. A
construção da personalidade nunca para, as vivências e tragédias são agentes
transformadores afetando em maior e menor escala de forma consciente e
inconsciente, ser verdadeiro consigo mesmo em dados momentos pode ser mais
difícil que a interação com o desconhecido, o homem acaba sendo fruto de
elementos que ele mesmo desconhece em sua criação e em sua época.
Assim,
o ser e o ter se confundem na sociedade atual e a persona se vê suprimida pelo
fluxo constante de informações e necessidades de interação com o meio, o
contato com o interior é recalcado junto com o que se considere uma emoção
socialmente negativa, o homem deseja, mas se nega ao ato de desejar, mais do
que ao próprio desejo, sendo o que se espera que ele seja e não o que ou quem
realmente é.
Freud
abriu a porta, a grande guerra deste milênio é individual, o desafio é o novo
mito da caverna de Platão, ou o sair da Matrix, trazer elementos do
inconsciente para a superfície e por mais que a psicologia e a psicanálise
sejam parte da cultura e Freud um ícone mundial, as luzes da superficialidade
parecem atrair muito mais a mente para a alienação do para a descoberta do
inconsciente. Desta forma, Freud explica, mas cada um ao seu modo ainda procura
complicar.
Christian Duchovny - Americana-SP 06/07/2014
Christian Duchovny - Americana-SP 06/07/2014