Mesmo diante de um calor tremendo a ideia de um inferno de
fogo não era capaz de convencer uma mente inquieta e naquele momento
incomodada.
Nem mesmo qualquer noção bíblica, mitológica ou fictícia
faria sentido para alguém tão racional, no entanto a palavra inferno não podia
simplesmente ser descartada daquele momento...
Momento, talvez esta fosse à chave. Aquele era o momento em
q o inferno se tornava palpável. Uma noite quente de verão, um país de terceiro
mundo, uma luta constante por se destacar, a convivência complicada com outros
seres humanos que na maior parte do tempo, ou naquele momento, faziam muito bem
seu papel de agentes do inferno.
Não que aquele fosse um estado de espirito infernal, mas que
em suma realmente o inferno estava presente.
Parando pra pensar o que mais faz sentido quando se pensa em
inferno é um momento repetido por toda a eternidade, mas isso não era
convincente o bastante, o inferno deveria ser mais criativo, mais provocador.
Esperança! Era essa a chave do inferno, tanto de entrada
quanto saída, pois como acreditar no inferno se não acreditar que pode se
livrar dele. Estar conformado anula toda a dinâmica infernal.
Era isso, naquela noite aquela mente estava inconformada e
por isso o inferno se mostrou com toda força.
Mas não era o momento se repetindo que causava o
inconformismo, era a mentira ser exigida como forma de verdade, como se isso
fosse possível. Não que aquele fosse um homem santo em conflito com as dores do
mundo, ele nem mesmo acreditava em santos, deuses, anjos, demônios ou no
inferno. Mas ele acreditava na verdade, não era uma verdade própria, ou inefável,
era simplesmente cumprir com seu dever, não estar em segundo algum amarrado aos
joguetes alheios.
E ainda assim o inferno chegou. E quando chegou, chegou
culpando a quem não mentiu, e era isso, não era o momento, era a culpa, e nem
era sua culpa, mas sim um reflexo do fracasso dos outros. Como alguém pode
carregar os erros dos outros? Não, não falem de Cristo ou qualquer outra
divindade ou semi divindade que supostamente tenha se sacrificado, isso nem
mesmo corresponde a raiz da palavra.
O inferno são os outros? Quase isso. O inferno é culpa dos
outros. Caramba, imagina aqueles condenados injustamente...
Christian Duchovny – Americana –SP 05/02/2014