quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O que é o inferno?

Mesmo diante de um calor tremendo a ideia de um inferno de fogo não era capaz de convencer uma mente inquieta e naquele momento incomodada.
Nem mesmo qualquer noção bíblica, mitológica ou fictícia faria sentido para alguém tão racional, no entanto a palavra inferno não podia simplesmente ser descartada daquele momento...
Momento, talvez esta fosse à chave. Aquele era o momento em q o inferno se tornava palpável. Uma noite quente de verão, um país de terceiro mundo, uma luta constante por se destacar, a convivência complicada com outros seres humanos que na maior parte do tempo, ou naquele momento, faziam muito bem seu papel de agentes do inferno.
Não que aquele fosse um estado de espirito infernal, mas que em suma realmente o inferno estava presente.
Parando pra pensar o que mais faz sentido quando se pensa em inferno é um momento repetido por toda a eternidade, mas isso não era convincente o bastante, o inferno deveria ser mais criativo, mais provocador.
Esperança! Era essa a chave do inferno, tanto de entrada quanto saída, pois como acreditar no inferno se não acreditar que pode se livrar dele. Estar conformado anula toda a dinâmica infernal.
Era isso, naquela noite aquela mente estava inconformada e por isso o inferno se mostrou com toda força.
Mas não era o momento se repetindo que causava o inconformismo, era a mentira ser exigida como forma de verdade, como se isso fosse possível. Não que aquele fosse um homem santo em conflito com as dores do mundo, ele nem mesmo acreditava em santos, deuses, anjos, demônios ou no inferno. Mas ele acreditava na verdade, não era uma verdade própria, ou inefável, era simplesmente cumprir com seu dever, não estar em segundo algum amarrado aos joguetes alheios.
E ainda assim o inferno chegou. E quando chegou, chegou culpando a quem não mentiu, e era isso, não era o momento, era a culpa, e nem era sua culpa, mas sim um reflexo do fracasso dos outros. Como alguém pode carregar os erros dos outros? Não, não falem de Cristo ou qualquer outra divindade ou semi divindade que supostamente tenha se sacrificado, isso nem mesmo corresponde a raiz da palavra.
O inferno são os outros? Quase isso. O inferno é culpa dos outros. Caramba, imagina aqueles condenados injustamente...


Christian Duchovny – Americana –SP 05/02/2014